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Os alertas do Presidente

Os alertas do Presidente

As intervenções de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a ameaça do populismo na Europa apontam no mesmo sentido: que vale a pena combatê-lo e acreditar que o populismo não triunfará.
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Nos últimos meses, o Presidente da República desdobrou-se em alertas sobre os riscos do populismo e a urgência de travar este fenómeno, fortalecendo a democracia junto dos cidadãos.

 

Numa Europa onde os movimentos anti-sistema estão a ganhar força, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu a necessidade de elites políticas exemplares, que restaurem a confiança na capacidade das instituições democráticas.

O seu mais importante apelo foi feito nas cerimónias do 5 de Outubro, quando pediu que se mantenham vivos os grandes valores da República.

«Será que [os portugueses] querem regressar a uma ditadura aberta ou disfarçada para cumprir as contas públicas, reforçar a autoridade e garantir a segurança?», questionou, numa alusão à ameaça populista que cresce em vários países europeus.

O chefe de Estado afastou essa hipótese, considerando antes que o distanciamento dos portugueses em relação à classe política tem outra explicação. Tem origem no «cansaço [dos cidadãos] perante casos a mais de princípios vividos a menos». Por isso, disse, «o exemplo dos que exercem o poder é fundamental sempre para que o povo continue a acreditar no 5 de Outubro».

Deixou o mesmo recado por duas vezes no mês seguinte. A primeira, num encontro em Lisboa para assinalar os 40 anos da Constituição portuguesa, onde Marcelo sublinhou que é preciso uma «pedagogia da democracia» junto da população, que ajude a combater o seu afastamento das instituições políticas. E onde lembrou que os fenómenos populistas não são inevitáveis para aqueles que acreditam na capacidade da democracia de encontrar soluções para os novos desafios.

«Uma coisa é ser sensível à realidade popular, estar próximo do povo. Isso é fundamental e muitos políticos não estão próximos do povo. Outra coisa é ser-se populista», afirmou. «Populista é aceitar tudo para chegar lá na base dos votos, valer tudo».

Uma coisa é ser sensível à realidade popular, estar próximo do povo. Isso é fundamental e muitos políticos não estão próximos do povo. Outra coisa é ser-se populista.

No final de Novembro, na abertura do Fórum Missionário em Braga, voltou a falar dos perigos de uma democracia mediática que resvala no populismo. «As revoluções científicas e tecnológicas dos nossos dias estão a trucidar a vida de algumas partes da sociedade, porque nem todos conseguem acompanhar essas revoluções. Esses que ficam para trás sentem-se excluídos e cedem aos apelos de contestação, de protesto», alertou. «São pessoas que se tornam permeáveis às mensagens simples».

O Presidente, que centrou o discurso no papel dos líderes políticos, frisou que hoje «há líderes diferentes – e em muitos casos com uma determinação fortíssima – da democracia mediática, da democracia inorgânica e do apelo a populismos».

Mostrou-se sobretudo preocupado com o crescimento dos extremismos perante a vaga de refugiados que chega ao continente. Lembrando que a Europa resulta de um cruzamento de civilizações e que «não há europeus puros», Marcelo lamentou as manifestações de egoísmo, racismo, xenofobia, os apelos ao fechar de fronteiras, considerando que são uma negação do «património europeu».

Já fizera um alerta semelhante a 10 de Outubro na entrega do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva, em Lisboa. Mas perante uma plateia onde se sentou o já eleito secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o Presidente deixou uma mensagem de esperança: «Mesmo quando essa Europa se nega através dos populismos, das xenofobias, dos nacionalismos, nós acreditamos na Europa», disse Marcelo. «Vale a pena lutarmos pela liberdade e pela democracia. Vale a pena acreditarmos que os populismos não triunfarão».

Imagem cedida pela Presidência da República (todos os direitos reservados).

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.

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