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Perguntas e respostas sobre «Portugal, um Perfil Histórico»

Sabia que a desigualdade dos cidadãos perante a lei preocupa os portugueses desde pelo menos o século XVIII? Pedro Calafate introduz este e outros temas do seu ensaio.
5 min
O ensaio 'Portugal, um Perfil Histórico' recorre ao pensamento de alguns dos principais intelectuais da história portuguesa para ilustrar como, ao longo dos séculos, aspectos como as fragilidades da Justiça em Portugal e as desigualdades sociais foram recorrentemente debatidos.

Porquê "Portugal, um Perfil Histórico"?

Este ensaio analisa o dinamismo da invenção e tematização da identidade dos portugueses como povo, comunidade e nação por alguns dos intelectuais que mais decisivamente marcaram o sentido e configuração deste percurso. Trata-se de fixar criticamente caminhos onde se inscrevem as etapas da consciência histórica de um povo, equacionando-o, por isso, no contexto dinâmico de sucessiva reinvenção de si, mostrando as linhas de continuidade, os dramas de alternativa, a oposição ou articulação entre diferenças enriquecedoras e as opções por percursos distintos que fomos capazes de ir idealizando.

De que trata o livro?

O modo como nos pensámos no decurso do tempo constitui um pilar essencial da cultura portuguesa, cujo conhecimento se afirma relevante para que nos perspetivemos a partir de uma dimensão de fundamento. 

Trata-se, pois, de saber como emergiu a consciência de que há fatores estruturantes que nos aproximam e que nos responsabilizam como povo. Como se foi verificando a crescente concentração centrípeta de vontades em torno de um viver em comum e de objetivos que o justificam? Como nos pensámos ao longo do tempo perante os desafios superados ou inalcançados, gerando manifestações de ufanismo, desvalia coletiva ou convergência de esforço meditado? Que forças e fraquezas fomos consciencializando? Como fomos perspetivando a nossa condição perante os demais povos e nações da Europa e do mundo? Como fomos emergindo de crises morais, económicas e políticas pela energia dos que a tal se propuseram? Quais os contornos mais ou menos nítidos do que consideramos ser, em cada momento, a nossa fisionomia espiritual, ou "a atmosfera do nosso agir"? 

São temas que resistem a métodos experimentais que os estabeleçam com a tecnicidade crescente de meios de verificação, mas trata-se de algo que sabemos existir e que muitas vezes acreditamos conseguir explicitar se necessário, embora nos surpreendamos com a dificuldade da tarefa, quando a tal somos instados.

O livro está dividido em cinco capítulos, abarcando o pensamento de relevantes intelectuais portugueses, ao longo de cinco grandes períodos: o final da Idade Media, o renascimento e o barroco, o iluminismo setecentista, o século XIX e, finalmente, o século XX.

O livro está dividido em cinco capítulos, abarcando o pensamento de relevantes intelectuais portugueses, ao longo de cinco grandes períodos: o final da Idade Media, o renascimento e o barroco, o iluminismo setecentista, o século XIX e, finalmente, o século XX.

Sabia que...?

Sabia que a lentidão da justiça foi sublinhada, desde o século XV, como uma das principais e mais gravosas debilidades da sociedade portuguesa?

Há quase seiscentos anos que pensadores e políticos destacados da sociedade portuguesa vêm sublinhando que, entre nós, "aqueles que tarde vencem ficam vencidos", vincando a necessidade premente do eficaz funcionamento da justiça.

Sabia que a desigualdade perante a lei assente no privilégio e em imunidades várias vem sendo apontada, pelo menos desde o século XVIII, como causa de permanente "guerra civil" entre os portugueses? 

A multiplicação de privilégios e imunidades foi identificada, no meados do século XVIII, como causa de "insociabilidade intrínseca" dos portugueses, sentindo-se cada qual rodeado por inimigos declarados, em prejuízo do sentimento de comunidade cívica e da possibilidade de ascensão pelo mérito, fundado no trabalho, na morigeração e na ciência.

Sabia que o sentimento de desvalia coletiva e de menoridade perante a Europa não nos acompanhou sempre ao longo da história? 

A tese de que éramos o "cume da cabeça da Europa", os "olhos da Europa", a parte mais nobre do continente europeu, a "luz do mundo", marcou parte relevante da Inteligência portuguesa ao longo dos séculos XVI e XVII, para sofrer uma quebra acentuada a partir do racionalismo iluminista, em que "os estilos e singularidades do país" passaram a ser a causa do nosso atraso, vingando a tese de que a eficácia da aplicação de modelos considerados universais é independente da substância ou condição dos povos.

Sabia que a mitificação da Europa como modelo regenerador do país se fez muitas vezes acompanhar por um esforço de negação e de condenação de uma fatia fundamental do nosso passado? 

Em muitos pensadores dos séculos XVIII, XIX e XX, vingou a tese do quanto mais imitar melhor, porque a nossa história fora um acumular de erros. Assim se foi mitificando a Europa a par da tese do erro de uma história inteira, por vezes em contexto apocalíptico de confronto entre luz e trevas, impedindo a serenidade dos diagnósticos e a consideração do valor das diferenças conquistadas.

Sabia que, entre nós, nem sempre a economia tomou conta do pensamento e da política? 

Nos finais do século XIX vivemos uma grave crise económica e financeira com muitos aspetos similares à dos últimos 8 anos, mas que foi interpretada por muitos como resultando menos de debilidades económicas e financeiras intrínsecas do que de um colapso ético das nossas supostas elites.

ensaio 'Portugal, um Perfil Histórico' vai ser apresentado no dia 11 de Novembro, às 19:00, no El Corte Inglés. Confirme a sua presença para relacoespublicas@elcorteingles.pt
livro está disponível na loja online da Fundação, com 10% de desconto e portes de envio gratuitos.

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor

Portuguese, Portugal